“O nosso objectivo era sermos capazes de seguir as borboletas-caveira durante a migração para compreender as rotas que fazem e como respondem às condições dos ventos”, explica ao PÚBLICO Myles Menz, primeiro autor do artigo da Universidade James Cook, em Townsville, na Austrália. O cientista fez a investigação quando trabalhava no Instituto Max Planck de Biologia Animal, em Konstanz, no Sul da Alemanha, junto à fronteira com a Suíça, de onde foram libertadas as borboletas-caveira, criadas no laboratório. “Esta espécie é um óptimo sistema de estudo, já que sabemos como podemos criá-la e os indivíduos, sendo bastante grandes, podem carregar os transmissores de rádio”, refere. As borboletas-caveira, que pertencem à família de mariposas (Sphingidae), chegam a pesar 3,5 gramas e alimentam-se de mel que retiram directamente de colmeias de abelhas. “As mariposas entram nas colmeias, perfuram a cera usando a sua forte probóscide e sugam o mel”, descreve Myles Menz. O seu ciclo de vida não é inteiramente conhecido. Mas, em linhas gerais, os indivíduos chegam à Europa, a norte dos Alpes, durante a Primavera, e reproduzem-se. Depois, no Outono iniciam a viagem de milhares de quilómetros até chegarem a territórios mais a sul, onde passam o Inverno, voltando no ano seguinte.
“As borboletas-caveira foram seguidas com uma avioneta que tinha antenas de recepção nas asas da avioneta. Fomos capazes de detectar o sinal dos transmissores [dos insectos]”, conta Myles Menz. “Fazer o seguimento nocturno é bastante desafiador, mas funcionou muito bem.”
A migração das borboletas é feita ao longo de muitos dias, mas os insectos descansam pousados no solo durante o dia e só reiniciam a viagem na noite seguinte. No entanto, os cientistas só seguiram as mariposas na primeira noite, até elas pousarem. Para que pudessem continuar a monitorização, na noite do dia seguinte, seria necessário que a avioneta estivesse já no ar quando as borboletas-caveira voltassem a iniciar o voo, o que poderia acontecer a qualquer momento durante a noite. Essa dificuldade fez com que a equipa só monitorizasse os insectos durante a primeira noite.
Ainda assim, a avioneta fez percursos entre uma e 3,65 horas e distâncias médias de 62,7 quilómetros, sendo o percurso máximo de 89,6 quilómetros. A avioneta foi recolhendo informação sobre a posição dos indivíduos a cada cinco a 15 minutos. Das 14 borboletas-caveira, os investigadores obtiveram localizações detalhadas para sete indivíduos. A primeira grande constatação que fizeram é que estes lepidópteros mantêm a mesma direcção da viagem independentemente da direcção e força dos ventos.
“Um voo ao longo de trajectórias tão direitas mostra que as mariposas estão a manter activamente os seus caminhos de voo”, explica o investigador. “Este tipo de trajectórias rectas é também raro em animais que migram a longas distâncias.”
Por outro lado, a monitorização dos 14 indivíduos permitiu
verificar que as características do voo mudam completamente consoante o tipo de
vento que os insectos apanham na viagem. Quando o vento vem de frente, os
insectos voam junto à terra, para ficarem mais protegidos, e aceleram o voo
para conseguirem manter a direcção desejada. Quando o vento vem de trás, eles
preferem voar a uma altitude mais alta e abrandam o bater de asas, deixando o
vento fazer a maioria do trabalho. Se o vento os apanha de lado, então não só
voam mais perto da terra, como também inclinam um pouco a cabeça para
compensarem o sentido do vento e conseguirem avançar em direcção à geografia
desejada.
“Durante anos, assumiu-se que a migração dos insectos era fundamentalmente sobre serem soprados pelo vento. Mas nós mostramos que os insectos são capazes de ser grandes navegadores, estando a par das aves, e são muito menos vulneráveis às condições dos ventos do que pensávamos”, afirma Myles Menz, no comunicado.
A pergunta lançada por esta descoberta é como é que estes insectos sabem qual é a direcção certa a seguir durante estas viagens gigantes? “Para manterem caminhos tão direitos, as mariposas têm de estar a usar alguma bússola interna para as guiar”, responde-nos Myles Menz. “Nós avançamos com a hipótese de que esta bússola poderá ser visual ou magnética.” O próximo passo será tentar descobrir como funciona aquela bússola.
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